Nas paredes há azulejos que tem mais de cinquenta anos e são de um azul claro que sempre me lembram aquário. As louças são amarelas, também claras. Quase um creme. Estou sentado no vaso e carrego uma xícara de café e talvez você esteja curioso para saber a cor.
É vermelha.
Mas este vermelho é vivo. Eu gosto de vermelho.
Estou tomando café numa xícara vermelha depois do almoço, sentado no vaso amarelo de um banheiro azul. Foi exatamente nesta posição que descobri meu primeiro orgasmo. Fiquei assombrado com a imensidão de tal divertimento
- Esse guri não sai da patente.
Era o que minha mãe dizia naqueles tempos.
Eu gosto muito de banheiros, mas não por este motivo de libidinagens adolescentes que nunca se curam.
Meu apreço pelos banheiros provém da paz que há neles.
Lembro de certa feita, no início da carreira, em que estávamos ensaiando num clube alemão daqui de Porto Alegre. Talvez tenha sido ali a primeira vez em que fiquei impressionado com um banheiro. Era um banheiro antigo, de uma construção antiga, que parecia não haver sofrido qualquer tipo de reforma. O chão tinha lajotas irregulares cor de telha e as paredes eram toscas, mas perfeitamente pintadas. A atmosfera era algo assim de fazer inveja a qualquer UTI do melhor hospital da mais próspera cidade. O extremo cheiro de limpeza se somava ao silêncio que ali reinava e só não havia mais silêncio porque os filetes de água dos mictórios eram perceptíveis como o ruído que a gente ouve à beira de um rio ou um regato. As naftalinas nas cubas eram o detalhe final na assepsia daquele ambiente solene. Havia muita paz naquele banheiro e daquela tarde nunca esqueci. Não lembro do repertório que ensaiamos, mas o banheiro nunca me saiu da memória.
Agora estou tomando café numa xícara vermelha, sentado num vaso amarelo claro de um banheiro azul celeste pensando que é um imensa fortuna ter um bom banheiro quando a gente precisa, assim como é uma sorte grande ter uma boa cama pra deitar quando a gente não se sente muito bem ou uma comida que a gente bota na boca, sente prazer, e comenta isso com quem está ao lado.
Acho que as pessoas acreditam em Deus também para terem mais facilidade nestes momentos em que se sentem afortunadas.
Eu não acredito direito.
Então fico assim, meio que sem saber o que dizer nessa hora em que é preciso dar o tope final.
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