Lembro de uma cafeteria da Rua da Praia que meu pai frequentava. A Bruxa. Fui com ele umas duas vezes, quando pequeno.
Você pagava no caixa e ganhava uma ficha azul, destas de jogatina, e apresentava no balcão. Era um balcão grande e na minha memória só havia homens de terno por ali. E claro, tinha fumaça. Bastante fumaça.
Acho que não havia capuccinos e demais variações.
Era café e só café.
Café preto, como se diz aqui no sul. E vinha numa xícara branca fervendo que dava bastante trabalho segurar. Queimava boca e dedos.
Mas gostei do convite. Me senti homizinho, acho. Aquele café saboroso ficou na memória. Aquele ambiente. A pressa no ar. O alvoroço dos homens que tinham tarefas pela frente e faziam uma pausa ali na Bruxa pra quem sabe reorganizar um pouco a mente e o espirito.
Escrevo isso tomando um café na cozinha.
Café se toma. Não se bebe.
O café que tomo é bastante honesto. Feito nestas cafeteiras italianas. Apesar de haver gente que condena, afirmando que a água fervente queima o café, não encontro em lugar algum um café melhor que este feito em casa e desta forma.
Andei comprando no super uns cafés metidos a besta, mas sabe que não encontro grande diferença?
Daí vem alguém e te oferece um café lá do Peru que é premiado e tal e você se prepara pra entrar no paraíso, mas nada.
Nada demais. Parecido com o cafezinho do boteco da semana passada.
Daí vem outro alguém que te leva pra tomar o café aquele do cabrito que come o grão e caga o grão e os caras moem aquele café cocozado e vendem por uma fortuna e você toma aquilo, louco de medo da desinteria, e o que?
Nada também. Parece o Mellita.
Acho que o café é mais um sonho. O cheiro do café é sempre melhor que o gosto.
Também acho que o sabor do café melhora de acordo com a qualidade dos pensamentos que passeiam na tua cachola. Mas o café é um sonho.
O churrasco também é um sonho. 99 por cento das vezes o cheiro é melhor do que o gosto.
O café e o churrasco são sonhos imaginativos que você experimenta através do cheiro e quando você realiza fica uma pontinha de desapontamento.
O sexo também?
Pois é.
O sexo acho que não. Certamente não. Ou não.
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