domingo, 19 de abril de 2015

CAUBI

Já faz tempo, mas muito tempo mesmo, estava eu, bem louco,  zapeando numa noite de carnaval e de saco cheio das imagens da avenida, resolvi assistir ao carnaval de clubes do Rio de Janeiro, afinal ali também tinha mulher pelada e de quebra, algumas baixarias.

Rolavam algumas entrevistas com famosos e de repente o repórter encontra Caubi Peixoto e faz com ele uma pequena entrevista. Isso estava acontecendo sem imagens. Enquanto as câmeras certamente procuravam as mulheres mais gostosas, Caubi ia tecendo comentários e o repórter, em um dado momento, anunciou que a banda estava chamando o artista pra subir ao palco e dar uma canja.

Durante a cobertura do bailareco, se podia ouvir muito bem o conjunto ao fundo, que era bastante competente na execução das marchinhas. Caubi subiu, cumprimentou os músicos e testou o microfone enquanto se  ouvia a introdução de uma marcha rancho.

No instante em que Caubi entoou as primeiras notas de Bandeira Branca, meu queixo caiu. A qualidade daquilo que ele estava fazendo era imensa. A afinação, o acabamento e a expressão se diferenciavam muito de tudo que tinha se ouvido naquele baile. Aquela execução impecável podia ser extraída dali e ser levada para um estúdio de gravação, para receber acompanhamento até de uma  sinfônica. Irretocável.

Com o passar do tempo, a gente vai descobrindo o que que realmente é  importante na vida,  e naquela noite, ficou claríssimo para mim que Caubi era um gigante. E isto ficou muito bem marcado na minha memória.

Ontem, mais de 20 anos depois, passei pela TV e estava passando um especial com Agnaldo Timóteo. Parei um pouco pra assistir. É um cara que também canta muito e sua performance artística me desperta imensa atração, e eis que de repente ele chama o Caubi pra fazer um dueto. Foi o máximo.

Aquelas duas figuras originalíssimas e brasileiríssimas, carregadas de personalidade, fantásticos artistas, ali sentados (por causa da idade avançada de Caubi, creio eu), rebentaram. Timóteo conduzindo. Num determinado momento faz-se o silêncio e Caubi entra arrasando. Perfeito. O público veio abaixo. É muita coisa.

Além do imenso  talento que este  cantor possui, é sabido o respeito que ele tem pelos instrumentistas e isso só faz aumentar a admiração que muitos de nós sentimos por ele.

Nestes programas que agora tentam criar e lançar novos ídolos não se vê ninguém que seja Caubi. Não se vê ninguém que queira ter uma característica própria. Além do mais, muitos deles utilizam uma inflexão yankee quando cantam. Eu acho  chato pra caramba.

Certa feita, numa outra entrevista, Caubi cantou à capela a frase “CONCEIÇÃO, EU ME LEMBRO MUITO BEM” e logo em seguida explicou sorrindo; “é a beleza da nota, meu irmão”. 


É isso aí. Caubi, até hoje,  busca a beleza da nota. Simples assim. Caubi é único. E é brasileiro.



FC – ABRIL – 15 - pOa



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