quinta-feira, 9 de abril de 2015

TRÂNSITO LOUCO, MEU!



Vivi no Rio de Janeiro por 12 anos e não precisei ter carro lá. E não andava de latão tampouco. Felizmente o metrô me bastava e pegava um pouco de taxi também, que é barato e abundante. A isto também se pode chamar liberdade, não é não?

Agora to dirigindo por Porto Alegre, porque necessito, e vou muito humilde de Corsa ou Gol, os cascudinhos, que são emprestados.

Paro no sinal atrás de um caminhonetão. A meu lado esquerdo para outro caminhonetão preto, maior ainda. Do lado direito outro.

Estou cercado. Os vidros são todos "fumês", termo que se usava na época em que eram proibidos. Não se vê quem está dentro. Também não enxergo o restante do universo. As caminhonetes são gigantes e cobrem minha visão do mundo em volta. Não vejo nada! Taquiuspariu! Já ouvi falar que o carrão tem a ver com pau pequeno. Parius do cu da bunda! Como deve ter pau pequeno nessa cidade! Como tem carrão por estas bandas!

Aliás, nas leis secas de outra cidade, o Rio de Janeiro, um fenômeno registrado foi o imenso número de carrões que não paga IPVA e muitos deles, se descobriu também, as revendedoras e a justiça andam atrás, devido à falta de quitação das parcelas. É mole?

Mas voltando à capital gaudéria,o trânsito está tenso e violento por aqui também. Antigamente era mais gentil e civilizado o procedimento dos motoristas de Porto.

As maiores agressões e barbaridades são feitas pelos carrões. Cada vez mais, ter dinheiro significa querer ser o dono do mundo e cagar para o resto. A ignorância, quando somada ao poder econômico, geralmente significa perda do coletivo. A terrível falta de senso crítico daqueles que poderiam tê-lo vai ajudando a destruir, dia a dia, o sentido de comunidade nas cidades do terceiro mundo.

Como falei, no Rio eu era pedestre. Acabei me acostumando a fugir dos carros. No Rio de Janeiro os carros tentam te atropelar. Te fazem correr mesmo. Verdade verdadeira.

Aqui em Porto Alegre é o contrário. Quase atropelo as pessoas, que levantam a mão pra avisar que estão atravessando a rua. Tenho de me adaptar a estas, para mim, novas maneiras de cruzar a via, senão vou acabar esmigalhando alguém.

Dia desses, quando estava iniciando a mudança pra cá, uma doida se atravessou de repente na minha frente, com o braço erguido. Ficou muito irritada por eu não ter freado antes. Fiquei olhando pra ela muito assustado. Achei que era louca. Não sabia do bracinho. Agora ando mais atento.

E os ciclistas então. Também tão bem loucos! No Rio era perigoso levar um bicicletaço nas guampas ao atravessar a rua. Os ciclistas andam na contramão em alta velocidade. Aqui no sul,o perigo está em cima da calçada e não sei se estou enganado, mas os ciclistas daqui me parecem tensos e irritados. Talvez seja só impressão. Talvez seja pelo trânsito sempre hostil a eles, não sei bem, mas dá pra ver que existe uma guerra urbana com diversas facetas, uma guerra alimentada por uma raiva que cresce e vai se apoderando de toda gente.

Pra espairecer, termino com uma historieta, relacionada a carro, que aconteceu na década de 40, na cidade de Lavras, ali, pertinho de Bagé.

Um fazendeiro conhecido da região tinha comprado um Chevrolet Rabo de Peixe. Era um carrão,que toda sexta feira ele estacionava na frente do bolicho do centro da cidadezinha pra fazer as compras da semana, ou o rancho, como ainda se fala por aqui.

Sempre juntava muita gente em volta do carro, que era uma raridade por aquelas paragens. O povaréu ficava bisbilhotando em volta do carro, enquanto o gauchão tava lá por dentro do mercado comprando víveres.

Um dia, o homem sai do Bolicho todo carregado e depois de colocar vários pacotes dentro do carro, se dirige até o capô da frente para dar manivela. Pra quem não sabe, houve um tempo em que ainda não haviam inventado a chave de ignição. Nessa época os carros pegavam à base de manivela.

Então o vivente, todo posudo, todo exibido,se abaixa e coloca a ferramenta no local indicado, que fica na altura do para choque frontal, e dá a partida.

Lamentavelmente, ele tinha esquecido de colocar a marcha em ponto morto, e o veículo, que estava engatado em primeira, repentinamente ganha vida e passa por cima dele sem mais, descendo em seguida uma rampa até parar numa arvorezinha com o motor fazendo uma barulheira danada e as rodas girando no capim.

Por sorte, o carrão é alto e não machuca muito o gauchito e ele então levanta imediatamente do chão, batendo a poeira das calças. Olha pra pequena multidão que está atônita à sua frente, recoloca o chapéu na cabeça e fazendo pose, em tom de queixa, grita bem alto pra todo mundo ouvir;

- Ela tá bem louca, hoje!

E pra terminar o assunto bem terminado mesmo, vai uma indagação sobre o tema “trânsito” do filósofo e pensador Ben Ismael Locks:


QUE DIREITO VOCÊ ACHA QUE TEM DE ACIONAR A BUZINA POR UM MOTIVO TÃO PEQUENO?




FC – Dezembro – 14 - pOa

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