Foi bem assim que a Fátima falou. Que a Bebel tava afim de mim. Já fiquei nervoso, do melhor nervosismo que alguém pode sentir. Mas já estava desconfiado também. Dias antes, a Fátima me colocou de costas coladas com a Bebel. Depois de verificar o que queria, revelou empolgada:
- Viu só? Eu não disse?
Pesquei alguma coisa ali. Certamente Bebel queria saber se eu era mais alto que ela. Isto era importante. Ser mais alto, nem que fosse um milímetro. Eu tinha dois amigos. O Ronaldo e o Celso. Os dois tinham 1.83 de altura. Eu tinha 15 anos e lembro que cheguei a pensar, por algum momento, que com o passar do tempo eu também teria os meus 1,83, mas infelizmente me mantive anão. Bueno...pelo menos era mais alto que a Bebel, que tinha cabelos longos, pele e olhos claros. Bonita e meiga. Tão quietinha a Bebel...
Esta medição que me refiro foi feita num jogo de vôlei. Nunca joguei vôlei. Eu achava que vôlei era coisa de bichinha, assim como também achava que basquete era coisa de moscão. Eu era do futebol e fazia uma pequena concessão algumas vezes pra jogar um tenisinho. Mas tava ali, jogando vôlei naquela tarde só por causa das gurias, entende? Pelas gurias, tudo. É claro. Então, tinha surgido aquela novidade, e eu teria de pedir a Bebel em namoro.
No sábado teve uma festinha no bairro e lá estava eu, calça boca de sino de tergal bege, que é a cor preferida da minha mãe que costurou a calça. Carteira de identidade numa meia, dinheirinho na outra. Era careta calça com bolso. Não se usava de jeito nenhum! Meu pai ficava puto com esta moda.
A Bebel tava lá, toda linda, na festa que tava animada, no meio das pessoas e eu sem coragem. A mão suava. Fiquei remanchando um tempo, escolhendo as palavras que seriam ditas. Até que chegou um momento que pensei que era hora, que eu não podia ser tão perna de rato. Então fui lá e falei com voz trêmula pra menina que queria falar com ela.
Por aqueles dias eu tinha lido Love Story e tinha uma cena em que a mocinha pegava o mocinho pela manga do casaco e acho que esta cena se tornou emblemática e logo resolvi utilizar o mesmo expediente. Peguei a Bebel pela manga e a levei prum canto mais escondido pra me declarar. Depois o Dido veio me dizer.
- Pô, cara. Parecia que tu tava levando ela presa.
Mas voltando, pedi em namoro, ela aceitou e nos beijamos. Meu primeiro beijo foi meio babado mas rapidamente eu já estava dominando a técnica da baba perfeita. Como é bom, né?
No dia seguinte, no clube do qual era sócio, tinha o Barrico. O Barrico era a boate da gurizadinha e funcionava das 4 da tarde às 8 da noite. Pois bem. Bebel e eu entramos na boatezinha e nos beijamos durante 4 horas sem parar. Saímos de lá exaustos e com as bocas vermelhas. O Dido depois veio me dizer.
-Cara! Quando tu saiu lá de dentro, tu parecia um velho!
Lembro que fiquei cansadão realmente. E o Ronaldo veio me criticar.
- Porra, cara! Conversa um pouco. Não beija tanto.
Não dei muita bola. Eu lembro um pouco deste começo, mas não lembro nada como terminou o namoro. Acho que não durou nem uma semana. Talvez porque a gente não tivesse assunto. Era uma preocupação que me afligia. Beijar eu achava fácil. Mas e o assunto? Que que eu vou falar com esta guria? Éramos mais caipiras nestas priscas eras.
De vez em quando lembro da Bebel e do meu primeiro beijo e acho que sempre vou pensar que este é o melhor e um dos mais importantes assuntos.
Nunca deixarei de me sentir profundamente agradecido, maravilhado e assombrado quando uma mulher me escolhe pra beijar sua boca. E sinto isto de verdade. Não é pra ser fofo ou own, que tá na moda falar.
É uma coisa minha... certamente coisa de caipira.
FC-SETEMBRO-15-pOa
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