terça-feira, 22 de setembro de 2015

O NOME E O EGO

Era um livro sobre bossa nova e contava sobre a célebre gravação de Águas de Março. Elis falou pro Tom que levaria seu pianista aos EUA e diz que o Tom ficou bravo e não queria, mas a cantora fincou pé e o Mariano acabou indo.

Tom cantou e tocou flauta no vídeo onde Elis e ele, os dois de pé, frente a frente, interpretam a linda canção de forma divertida, o que certamente ajudou a celebrizar o clip. Ficou aquela coisa du carai. Leve e antológica. Nessa parte do livro, diz também que o Tom, que tinha mania de mudar o nome das pessoas, chamava a cantora de Élis, acentuando na primeira sílaba e chamava o pianista de Camargo, diferentemente de todo o resto das pessoas que usava Cesar ou Mariano.


Coisa parecida fazia o Brizola no programa do Jô Soares. O político pronunciava o nome do apresentador com "o" aberto.

- Mas viu, Jó?...

Falava desta forma e fazia uma pausa, com um sorriso matreiro nos lábios e o olhar vivo faiscava, como que dizendo...aqui eu sou o patrão, aqui eu sou o pai eu dou o nome como me aprouver. No caso do Jobim também. Era uma forma sutil de ter um certo poder sobre as pessoas. Parece uma coisa mínima mas acho que tem o seu peso. Fica ali, no subtexto, subliminar. Tô chutando?

Dia destes uma pessoa próxima, numa conversa, lamentou o fato de que possuía o acentuado hábito de apelidar seus amigos na infância. Me comentou que achava que com isto, tinha plantado o rancor no coração da galera. E é verdade mesmo. Ele apelidava todo mundo. Acho que era uma tentativa de liderança sobre o bando. Apelidar é nomear, ou nominar. Apelidar é batizar e quem batiza é o padre, ou o pai, então penso que apelidar é uma forma de tentar desqualificar, ou enfraquecer, o indivíduo no grupo. Eu apelidei algumas vezes. Também fui perverso. Já faz muito tempo que não faço isso. Acho que foi desde que descobri que as pessoas gostam de ter seu nome pronunciado no meio da frase que se fala. Notei que o olho da pessoa brilha quando isto acontece. Me parece nobre fazer isto. Colocar o nome do interlocutor no meio da sentença.

Saindo do assunto, mas continuando no mesmo, Osho e a filosofia Zen consideram isto tudo uma grande bobagem. Pra eles, o nome e o ego são a mesma coisa, e acreditam ser de vital importância matar o ego. Já li textos bem interessantes sobre isto. Quando você consegue eliminar o ego, e descobre o que eles chamam de real centro, você fica imune à qualquer ofensa, assim como deixa de ser sensível aos elogios. E como necessitamos de elogios. Não é?

Nestes tempos de rede social, os egos nunca estiveram tão borbulhantes e inflamados, afinal a rede, de uma certa forma, nos torna a todos protagonistas. Talvez por isto haja tanta convulsão por micro motivos. Talvez por isto haja tanto ódio escorrendo. O ego. Construído sobre frágeis alicerces. Se melindra por qualquer coisinha. Será que é isso?

setembro - 15 - pOa

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