segunda-feira, 14 de setembro de 2015

ORBITAIS 5 - do nascer

Caramba, 
a gente não quer sair da cama quente,
não quer sair do banho fervendo,
e quando o sexo acontece,
a gente não quer parar nunca mais,
não quer deixar daquele ambiente quente e úmido,
pois não é verdade que em outras plagas batizaram o orgasmo de "pequena morte"?,
porque gozar, para o homem é sempre um fim,
mas pra mim,
gozar também é algo como renascer,
então adio,
postergo,
porque a gente não quer ter de nascer de novo,
nascer é muito duro e difícil e todo dia a gente volta a nascer brutalmente, quando desperta pela manhã,
talvez por isso alguém andou dizendo por aí que só atinge a felicidade aquele que morre,
e deve ser exatamente por isto que invado mais e mais as madrugadas, porque adormecer significa que haverá um despertar e despertar é uma alegoria do renascer e tenho pensado que tenho mais medo de nascer do que de morrer,
e Almodóvar sabe muito bem disto,
tanto é que numa cena de um de seus filmes que parecia ser ridícula,
mas está longe de se-la,
apesar de cômica,
o cineasta espanhol retrata um pequenino homem entrando ansiosamente em uma vagina imensa,
tentando desesperadamente voltar, quem sabe seria o "desnacer",
talvez seja este o ponto principal e mais central da reflexão sobre a existência ou talvez a Lispector tenha feito uma frase ainda mais genial e definitiva que diz "Ter nascido me estragou a saúde".


Não sei bem se é isso mesmo,
se é pura bobagem,
talvez aí tenha bastante de bobagem como em tudo que andamos tateando, mas foi assim que me veio e foi assim que com esforço consegui escrever.

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