sábado, 4 de setembro de 2021

COVIDÃO

Nos conhecemos numa destas festas clandestinas e a moça era uma moça simples. Simples e encantadora. Ficou muito impressionada com meu sobrenome e passou a noite me chamando de vírus. Falava pras pessoas em volta que tinha pego o Corona duas vezes e repetiu isso trocentas vezes, mas quando a gente casa na festa e tá bêbado como um camelo, a gente não se importa nadinha com estes detalhes pequenos e só fomos interrompidos às três da matina com a chegada da poliça que deu fim ao proibitivo festerê. 

Nos trataram com a maior cortesia. 

Quando é professor ou estudante se manifestando, eles sentam o braço, mas festa clandestina, poliça só falta dar brinde. Não sei como fomos parar num motel, mas depois de nos lambuzarmos bem com álcool gel e usarmos calcinhas e cuecas à guiza de máscara, demos início aos trabalhos e pude notar que a menina era possuidora de notório talento e perturbadora volúpia e fui administrando o troço como dava até o momento em que ela retirou a cueca, quer dizer, tirou a cueca da cara pra poder falar alguns impropérios e fiquei assombrado com o repertório interminável de palavrões e chulices que a moça murmurava que chegou num momento que ela ofendeu minha mãe e até meus tios e percebendo que se aproximava formidável orgasmo me segurei na cama com todas as unhas e foi nesse momento de estrondo vulcânico que a moça gritou a todos pulmões;

- VAI, COVIDÃOOOOOO!!!

Bueno.

A parada se desmanchou como um pneu furado.

Levantei da cama e deixei ali a mina orgasmeando sozinha.

Depois de entornar minha caipira de álcool gel cloroquinado de um só gole, me aproximo da janela e passo a gargalhar em direção à lua.

Impressionante.

Gargalhadando e chorando ao mesmo tempo. Lágrimas de crocodilo? Não. Lágrimas de jacaré, por supuesto.

- Vem cá, minha pandemia. Vem de conchinha.

Reparei que a moça tava recomposta.

- Tá. Já tô indo.
- Vem me dar um pouco mais desse tratamento precoce, vem?
- Hum.
- Virusão.
- Bah.

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