Foi quando estava me aproximando dos 30 anos que descobri que eu não seria eterno, porque até então, com 20, ou pouco mais, eu enxergava um horizonte sem fim pela frente. Eu realmente não pensava na morte. Esta aterrissagem nos 30 me assombrou de verdade.
Quando cheguei aos 40, só tive um pensamento. PUTZ, AGORA FUDEU! Mas não sofri. Me senti muito bem ao entrar nos “enta”. Pensei que, "já que agora fudeu", era a hora de falar e fazer o que me desse na telha, sem me importar muito com a opinião alheia e então comecei a entender que é muito verdadeira a máxima de que a vida começa aos 40. Aliás, a Mafalda tem uma frase boa sobre o tema: Se a vida só começa aos 40, por que viemos com tanta antecedência?
Quando me aproximei dos 50 não foi tão relax. Também tive apenas um pensamento definidor. AGORA FUDEU MESMO.
Acho que os 50 são uma espécie de duro marco, tipo “to vivendo os últimos fiapos de juventude e depois disso vai ser só corocagem” e tragicamente desconfiei que a vida começa aos 40 e termina aos 50. Fiquei meio doidão por algum tempo, mas eis que de repente começaram a cair algumas fichas sei lá de onde e agora vejo brilho por todos os lados.
Levei mais de 50 anos para perceber coisas tão simples. É um milagre que estejamos por aqui, e então tenho me sentido lisérgico que dá até medo. Uma vontade desgraçada de viver e também vontade de trazer os meus junto comigo pra dividir isto e quem sabe até ensinar. Há uma serenidade boa que vêm vindo com esta maturidade.
Dia destes li um artigo que falava que o homem macho, em sua grande maioria, sai da adolescência aos 54 anos de idade. É um artigo sério.
Sabe que os 54 foram, para mim, o começo desta curva ascendente? E dá bem certinho. A vida começa aos 40, a gente vive 14 e fica adultinho aos 54. Não é?
Tenho um amigo médico que também é músico que se chama Colombo Cruz. O Colombo é homeopata e trabalha com medicina ortomolecular. Andei encontrando o Colombo numas festas e ele parece, cada dia que passa, mais rejuvenescido. Falei pra ele que quero tomar disso que ele anda tomando, e na última festa chamei-o num canto e aconselhei.
- Colombo, se você continuar assim, vai perder todos seus pacientes. Ninguém vai querer ser atendido por uma criança.
Ele deu risada, e logo em seguida, dando segmento às brincadeiras, falei para quem estava por perto.
- Olha só! Colombo descobriu a cura da morte!
Desde então esta expressão me acompanha um pouco. Será que algum dia o homem vai conseguir frear o envelhecimento celular? Já pensou? Se não formos atropelados ou morrermos afogados podemos ficar por aí mais de 500 anos.
Acho que seria o fim da humanidade, que só caminha devido à urgência que temos de fazer as coisas antes de morrer. Se já deixamos pra amanhã o que podemos fazer hoje, imagina se nos tornarmos eternos.
Tenho aproveitado muito cada um destes meus atuais dias. Tenho pensado muito no mistério da vida e se penso na vida não há como não pensar na morte e em todo grande mistério que ela também tem e acho que sempre terá. A morte tem pautado meu dia a dia e não tenho vergonha de dizer. E afirmo que isto é um puta combustível.
Não acredito que vamos descobrir algum dia, o que acontece com a alma quando o corpo fenece. Então por isto, às vezes falo com os amigos sobre que seria legal se realmente o homem descobrisse “A CURA DA MORTE” e sempre tem alguém pra me dizer que isto é bobagem, que chega uma hora que a gente se cansa e quer ir embora mesmo.
Eu não sei não. Sei lá. Acho que eu gostaria de ficar por aqui por uns dois mil anos. Enquanto houver panturrilhas pra ver caminhando pra lá e pra cá, acho que quero ficar. E se não for pelas panturrilhas, fico só pra implicar, ou usando um verbo sulista mais legal ainda. Fico aí pra a eternidade. Só pra inticar.
Fernando Corona – 8/14 - RJ
Estou contigo nessa!
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