Estou dirigindo, dando várias caronas na parte da tarde e, ansioso, necessito ouvir notícias. Necessito muito ouvir notícias.
Ligo o rádio na Gaúcha AM, mas o assunto principal é sempre o futebol. A dupla GRENAL.
Eu não sei que tanto assunto estes caras podem encontrar nesse tema. Acho que a metade da programação da rádio se destina a Grêmio e Inter.
Quando não falam de futebol parece sempre um programa de variedades com uma informalidade que é como se os caras estivessem coçando frieiras e tomando cerveja na cozinha de suas casas ou na Padre Chagas.
Depois do golpe, a impressão que se tem é a de que tudo ficou mais avacalhado e essa gente se sente mais à vontade ainda pra chinelear geral desde seus aposentos situados nas coberturas da Casa Grande.
Dia destes deram vários tiros no pé ao comentarem sobre o assalto àquela agência bancária de Santa Catarina, e a leviandade lhes custou a perda de patrocinadores. Como eu disse, é meio que informal demais. Um deboche. Dessa vez atingiu à elite.
Num outro dia entrevistaram Jean Willis que é um cara pra lá de articulado, cheio de café no bule, que conhece bem o coxinhismo da rádio e este rebateu com muita firmeza as questões maliciosas que Kelli e Coimbra lhe fizeram.
Depois de terminado o programa, Coimbra, notadamente irritado com o preparo e a firmeza do ex deputado, afirmou que Jean e Bolsonaro são pessoas parecidas. Fez isto depois da despedida, de forma covarde.
Pra essa galera da RBS, a cuspida de Jean é bastante mais grave do que a homenagem que a besta fez à outra besta.
Então fico muito irritado e troco pra BANDnews.
Daí tem papo de pets, carros, vinhos e estas chorumelas coxas, que são chatas pra carai e então me sobra apenas ouvir música. E eu não tenho vontade de ouvir música, mas passo pro pendrive.
No pendrive havia colocado uns discos do Chico e cai bem no meio do Bye Bye Brasil.
Daí lembrei que dia destes assisti a um saboroso vídeo onde Roberto Menescal conta que Chico e ele foram chamados por Cacá Diegues para uma reunião onde ficou tratado que os dois músicos comporiam a canção tema para o novo filme do cineasta.
Diz que Menescal foi pra casa, entusiasmado com a proposta, iniciou o trabalho e logo a melodia estava pronta.
Ficou à espera do Chico que parece que não deu resposta durante três ou quatro semanas.
O dia em que estava marcada a data de gravação chegou e Menescal foi para o estúdio, conformado de que a canção seria gravada apenas de forma instrumental. Havia urgência de colocar a trilha em cima do vídeo e Diegues chegou com a notícia de que Chico não havia conseguido cumprir a tarefa.
Diz que de repente, do nada, Chico entra no estúdio trazendo um montão de folhas coladas e as vai depositando no chão. Era a letra quilométrica. Cacá ainda pediu uma tesoura e foi cortada uma boa parte das estrofes e este retalho acabou sendo esquecido no local e Menescal lamenta isso até hoje.
Esta canção é impressionante.
Menescal, para compor a melodia, se utiliza de um motivo que se repete. Um motivo frio, diga-se de passagem. Apesar de bonito. Aquilo não parece ter sido cantarolado de forma intuitiva. Parece mais ter sido composto num instrumento. Piano ou violão. É bastante diferente compor cantarolando de compor dedilhando no instrumento.
Impressionantemente, o Senhor Buarque consegue criar um ambiente mágico e lírico em cima daquela melodia tão técnica e a letra, aliada à repetição sistemática dos motivos melódicos nos leva a uma sensação de delírio e vertigem.
Quando termina a canção, é como se eu tivesse tomado um Omeprazol pra alma. No meio de tanta brutalidade que só cresce é cada vez mais necessário buscar estes bálsamos, antes de que esqueçamos de como se faz isso.
Esta canção me emociona muito.
É algo como uma despedida triste, solitária e delirante.
É uma despedida do Brasil. Uma despedida do Brasil sem sair dele.
Acho que é o que muitos de nós andamos sentindo.
112King Jim, BE Alves e outras 110 pessoas
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