Foi o Fernando Pezão que me chamou pra gravar o trabalho do
Claudio Levitan e nos primeiros cafés ficou decidido que seria piano e voz e nada mais.
Acho que isso era 18 ainda e passamos todo 19 ensaiando e gravando as cançonetas do Levitan. Pezão propôs que a performance pianística fosse encarada meticulosamente e por isso os ensaios foram numerosos.
Numa tarde levantei a ideia de que poderia ficar simpático se houvesse no disco uma parceria nossa.
Levitan me entregou um retalho de letra em que o refrão dizia:
"Só a canção me acalma, só a canção não deixa que eu morra de amores por ti".
"Só a canção me acalma, só a canção não deixa que eu morra de amores por ti".
Daí fiquei pensando.
Sim. A canção é um bálsamo. Elimina as dores.
Logo me veio aspirina. E pra rimar com aspirina, vacina. Vacina na primeira frase.
Atenção. Isso aconteceu um ano antes da pandemia.
Daí mostrei pro Levitan esta proposta de uma nova arquitetura pra música e ele gostou e imediatamente foi adicionando outros signos e dentre eles:
MINHA CANÇÃO NÃO QUER DEIXAR QUE NA ANGÚSTIA ME FALTE O AR.
O ar. Tão simbólico, não é? Neste terrível ano de 20, tantas e tantas pessoas ficaram impossibilitadas de respirar.
Ficamos surpresos que nossa canção contivesse estes toques tão premonitórios.
O disco do Claudio, com produção cuidadosa do Pezão, ia ser lançado no 20, mas o coronga nos atropelou. Ficou bonito pra caramba.
Tamo só pela vacina.
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