segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

SANTO ANJO

É hora da janta.
Sento à mesa e ligo a TV.
Sirvo o prato pensando na vida.
Quando vejo, coloquei comida demais e tenho certeza de que será impossível comer tudo.
Janto assistindo TV.
Me surpreendo quando reparo que o prato está vazio e ainda sinto fome.

Vou colocar a camiseta.
Presto bem atenção pra não colocar a caralha da camiseta ao contrário.
Volto a revisar pra ver se está tudo certo.
Tudo certo. Etiqueta no lugar adequado.
Visto a camiseta.
Está ao contrário.

Daí surge flutuando na via uma mulher linda e ensolarada e você lança o olhar sobre ela e não se sabe de onde aparece um sujeito que se interpõe, impossibilitando sua visão, e você então vai pra direita, vai pra esquerda, procurando novos ângulos, mas o energúmeno, caprichosamente, vai mudando a trajetória, impedindo você de ter acesso aos detalhes, talvez analisar o balanço do caminhar, o formato das panturrilhas ou até mesmo a forma como se comporta o cabelo ao vento, e então só te resta puteá-lo, pois você já sabe muito bem que vai ser assim até a moça desaparecer no horizonte, o palhaço será um muro com pernas, teimoso e intransponível e você também começará a ter certeza de que isto é coisa de um anjo safado, um querubim fela que, como você, adora o assunto, e fica por aí, vagabundeando pelo éter e pelas nuvens, te sacaneando, rindo da tua cara de contrariedade por não poder, nem por uma caralha, esculpir na alma a rara fotografia de uma deusa que, pra tua imensa sorte, teria cruzado teu caminho.

Deus eu não sei.

Mas que tem um anjo que protege a gente, já tenho minhas certezas.

Protege. 

E também se diverte muito.

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