Na rua me chamam de tio e já faz muito tempo. Vou curtindo enquanto não me chamam de vô. Uma coisa que nunca fiz e juro que nunca farei é pedir pra que não me chamem de Senhor, por que pior que ser véinho, é ser véinho prafrentex. Gostou do prafrentex? Acho que tô coroca mesmo.
Mas o contrário já fiz. Uma vez tava de amasso com uma mulé e pedi a ela que me chamasse de Senhor. Ela adorou. A coisa esquentou e pra aumentar a pressão pedi então pra que ela me chamasse de Monsenhor. Ficou me olhando, mas entendeu que Monsenhor remete à igreja e igreja remete a pecado. Então se possuiu mais ainda. Mas quando pedi pra que me chamasse de Desembargador não é que a moça se irritou? Num ímpeto levantou da cama e começou a se vestir. Perguntei o que havia acontecido e ela, tomada pela fúria, respondeu com outra pergunta.
- Tá de sacanagem?
- Tava, mas você levantou!
Fiquei olhando a menina colocando a roupa e pensando cá comigo. Quer ver que quando ela se for vai bater a porta “dicumforça”?
Antes de sair me encarou e disse:
– Velho desse jeito e parece um marinheiro de primeira viagem. Eu, hein?
E saiu batendo a porta “dicumforça”, bem como eu havia previsto.
Sei tudo sobre como as mulheres gostam que a gente se sinta culpado e a porta batida com estrondo é o retoque final. É o golpe de misericórdia perfeito pra ferrar nossa consciência.
Fiquei ali, deprimido, olhando pro teto, lembrando os melhores momentos e remoendo aquela cena final.
Mas vejam só a coragem desta menina! Me chamar de marinheiro de primeira viagem. Pode isso? Marinheiro? Mas peraí...quem sabe Imediato, ou Almirante? Isso. Da próxima vez vou pedir pra que ela me chame de Almirante. Ou quem sabe Comodoro? Melhor ainda. Xi! Ela nem deve saber o que significa Comodoro. Nem mesmo eu, sei ao certo. Mas que vai ser massa, ahhh, isto vai.
Fernando Corona 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário