A Suellen tá trabalhando lá na firma faz dois dias. Ela é linda, deve estar lá pelos 25, e parece muito simpática. Está sempre com um sorriso na boca, e isto foi o bastante para me dar coragem de convidá-la para um chope depois do batente e é exatamente o que estamos fazendo agora.
Estamos sentando numa boa mesa no Aurélio’s, o bar preferido pela galera da nossa empresa. Ela diz:
- Que bacana este barzinho! A decoração parece a mesma do bar do Tio Pedro que visitei no ano passado......
É uma gata esta menina, ela fala com este movimento de mãos tão bem feitas, com estes dentes perfeitos. Parece ter gostado do meu convite. E continua solando:
-...daí então os cachorrinhos entram pelos fundos e ficam olhando pra gente com um ar pidão. Ai, que dó que dá....
Pera aí. O assunto mudou do tio Pedro pros cachorros. Deve ser algo relativo a cachorrinhos que entram no restaurante do Tio Pedro. Tenho de prestar atenção na conversa, mas é difícil, com este decote e esta cor de pele e este beicinho que ela faz quando diz “que dó que dá”...
-...eu adoro, acho o máximo. E você? também gosta?
E agora? Gosto do que? Qual era o assunto? Perdi o fio de novo. Vou arriscar.
- Gosto muito.
- É mesmo? Que legal. De que cor você mais gosta?
Putz. Piorou. Vou ter de arriscar de novo.
- ãhhh.....azul.
- Rosa azul? Existe isto? Onde você viu este tipo de flor?
- Em Madagascar.
Caramba! Não sei de onde tirei isto.
- Sério? Onde fica Madagascar?
- Perto da Oceania.
Joguei muito War, então sei que quando você conquista a Oceania, logo sai comendo Madagascar e Sumatra, que ficam ao lado, e geralmente ganha o jogo.
Acho que me safei. Epa, um tapinha no ombro. É o Igor. Trabalha na empresa também. Não posso acreditar! Igor é um mala sem alça, tem uma conversa pegajosa. É daqueles caras que sabem tudo de futebol e política, daqueles caras que tem certezas absolutas, e como se não bastasse emitir frases definitivas, sempre as repete - O Dunga não é técnico de futebol, o Dunga não é técnico de futebol - e olha pra você com os ares de um gênio que ilumina o planeta.
- Igor, senta com a gente!
Não acredito que esta menina fez isto. Convidou o Igor pra sentar! Parius, ele aceitou. Pediu um Campari e disse que vai ao banheiro e já volta. Mas não é mala um cara que pede Campari?
- Puxa, como o Igor é legal. Desde o primeiro dia tá me ajudando a entender o trabalho lá da firma.
- Hrg....é sim. O Igor é o máximo...
Putz. Isto não vai nada bem. Chamo o garçom:
- Dois chopes, chefia!
- Não, eu não vou beber chope. Pra mim, uma água sem gás, fora do gelo, por favor.
Carácoles! A mina gosta de água morna! Depois de dez chopes e cinco cigarros vou ficar com um bafo de tigre louco que ela vai se horrorizar. A coisa complicou bastante. Igor na área e a menina não entorna. São dois terríveis obstáculos.
Pouco depois, já tô no terceiro chope, vejo que perdi terreno. Eles começaram com um longo papo sobre signos, e de signos não sei nada e nunca quis saber, e o Igor agora está consultando algo no seu Android, do qual nunca se cansa de falar e de mostrar os novos aplicativos. Consulta terminada, olha pra mim com sarcasmo e fala:
- Não existem rosas azuis. Não existem rosas azuis. Nem em Madagascar. Nem em Madagascar.
A menina parece contrafeita.
- Acho que você se enganou.
- Era uma figura de linguagem, querida. Uma metáfora e...
Ela nem me ouviu, porque lembrou do que tinha acontecido no Big Brother da noite anterior e os dois ficaram animados com o novo assunto. Caraca! Estou em grandes dificuldades. Chamo o garçom.
- Salta um trigo velho, mestre!
Suellen me olha de forma interrogativa. Nunca deve ter ouvido falar em trigo velho. Igor lança seu pior sorriso em minha direção. Algo tipo “Você está acabado, meu velho”.
Mas agora é isto o que me sobra. Me entupir de chope e trigo velho e ficar à espreita, pianinho. Sempre pode acontecer um golpe de sorte que vire este jogo.
Agora eles estão de olhos fixos um no outro.
Não, não, não! Não posso acreditar! Tão jogando “Sério”? Ninguém mais joga “Sério” faz trocentos anos. Ela riu antes, e Igor ganhou a partida de “sério”.
- Ai, Igor. Você me ganhou! Assim não vale.
Eita. Ela joga “Sério” e assiste ao BBB. É uma deusa, uma delícia de mulher, mas agora sei, e disto tenho certeza, que depois de um orgasmo num motel qualquer, o pós operatório seria dos mais dolorosos.
Já estou no oitavo chope e no segundo trigo velho e quando Igor começa a ler a mão da menina, fico enjoado e resolvo ir ao banheiro. Depois de tirar água do joelho, fico olhando minha cara bêbada no espelho. O quadro da dor.
- Que bosta. Que bosta.
Escuto minha própria voz. Parius. To falando frases duplicadas também.
Passo uma água na cara e vamos à luta de novo. Quando saio do banheiro me dá um teto quando vejo a cena. Os dois agarrados no maior amasso. Taquiuspariu! E essa??? Vou jogar trigo velho nas minhas roupas e tocar fogo. Ou volto pro banheiro e me sufoco com papel higiênico. Ou quem sabe os dois junto? Mel Dels.
Com a vista turva me aproximo do balcão. É pagar e sumir. O Aurélio’s está lotado agora e demoram pra me atender. Sinto que a meu lado alguém senta e vejo que é a Nádia. A Nádia é do recursos humanos. Fiquei sabendo que se separou faz pouco tempo. Nunca trocamos palavra. Ela pede um chope e me cumprimenta. Tem o olhar cansado, mas não parece triste. Se dirige a mim.
- Me acompanha?
Nádia não chega a ser bonita, mas sempre me chamou a atenção o fato de parecer serena. Acho que neste momento, nossos olhares emanam distintos pedidos de socorro e quem sabe os dois possamos descansar um pouco, um na ilha do outro.
Reparo no bom gosto e discrição de sua forma de vestir, que contrastam muito bem com um divertido enfeite que leva no cabelo. Uma pequena rosa azul.
- Claro, Nádia.
Tomo fôlego, que a vida é bela e sinuosa.
- Ôooo Seu Chefia! Salta mais um chope! No capricho!
- Que bacana este barzinho! A decoração parece a mesma do bar do Tio Pedro que visitei no ano passado......
É uma gata esta menina, ela fala com este movimento de mãos tão bem feitas, com estes dentes perfeitos. Parece ter gostado do meu convite. E continua solando:
-...daí então os cachorrinhos entram pelos fundos e ficam olhando pra gente com um ar pidão. Ai, que dó que dá....
Pera aí. O assunto mudou do tio Pedro pros cachorros. Deve ser algo relativo a cachorrinhos que entram no restaurante do Tio Pedro. Tenho de prestar atenção na conversa, mas é difícil, com este decote e esta cor de pele e este beicinho que ela faz quando diz “que dó que dá”...
-...eu adoro, acho o máximo. E você? também gosta?
E agora? Gosto do que? Qual era o assunto? Perdi o fio de novo. Vou arriscar.
- Gosto muito.
- É mesmo? Que legal. De que cor você mais gosta?
Putz. Piorou. Vou ter de arriscar de novo.
- ãhhh.....azul.
- Rosa azul? Existe isto? Onde você viu este tipo de flor?
- Em Madagascar.
Caramba! Não sei de onde tirei isto.
- Sério? Onde fica Madagascar?
- Perto da Oceania.
Joguei muito War, então sei que quando você conquista a Oceania, logo sai comendo Madagascar e Sumatra, que ficam ao lado, e geralmente ganha o jogo.
Acho que me safei. Epa, um tapinha no ombro. É o Igor. Trabalha na empresa também. Não posso acreditar! Igor é um mala sem alça, tem uma conversa pegajosa. É daqueles caras que sabem tudo de futebol e política, daqueles caras que tem certezas absolutas, e como se não bastasse emitir frases definitivas, sempre as repete - O Dunga não é técnico de futebol, o Dunga não é técnico de futebol - e olha pra você com os ares de um gênio que ilumina o planeta.
- Igor, senta com a gente!
Não acredito que esta menina fez isto. Convidou o Igor pra sentar! Parius, ele aceitou. Pediu um Campari e disse que vai ao banheiro e já volta. Mas não é mala um cara que pede Campari?
- Puxa, como o Igor é legal. Desde o primeiro dia tá me ajudando a entender o trabalho lá da firma.
- Hrg....é sim. O Igor é o máximo...
Putz. Isto não vai nada bem. Chamo o garçom:
- Dois chopes, chefia!
- Não, eu não vou beber chope. Pra mim, uma água sem gás, fora do gelo, por favor.
Carácoles! A mina gosta de água morna! Depois de dez chopes e cinco cigarros vou ficar com um bafo de tigre louco que ela vai se horrorizar. A coisa complicou bastante. Igor na área e a menina não entorna. São dois terríveis obstáculos.
Pouco depois, já tô no terceiro chope, vejo que perdi terreno. Eles começaram com um longo papo sobre signos, e de signos não sei nada e nunca quis saber, e o Igor agora está consultando algo no seu Android, do qual nunca se cansa de falar e de mostrar os novos aplicativos. Consulta terminada, olha pra mim com sarcasmo e fala:
- Não existem rosas azuis. Não existem rosas azuis. Nem em Madagascar. Nem em Madagascar.
A menina parece contrafeita.
- Acho que você se enganou.
- Era uma figura de linguagem, querida. Uma metáfora e...
Ela nem me ouviu, porque lembrou do que tinha acontecido no Big Brother da noite anterior e os dois ficaram animados com o novo assunto. Caraca! Estou em grandes dificuldades. Chamo o garçom.
- Salta um trigo velho, mestre!
Suellen me olha de forma interrogativa. Nunca deve ter ouvido falar em trigo velho. Igor lança seu pior sorriso em minha direção. Algo tipo “Você está acabado, meu velho”.
Mas agora é isto o que me sobra. Me entupir de chope e trigo velho e ficar à espreita, pianinho. Sempre pode acontecer um golpe de sorte que vire este jogo.
Agora eles estão de olhos fixos um no outro.
Não, não, não! Não posso acreditar! Tão jogando “Sério”? Ninguém mais joga “Sério” faz trocentos anos. Ela riu antes, e Igor ganhou a partida de “sério”.
- Ai, Igor. Você me ganhou! Assim não vale.
Eita. Ela joga “Sério” e assiste ao BBB. É uma deusa, uma delícia de mulher, mas agora sei, e disto tenho certeza, que depois de um orgasmo num motel qualquer, o pós operatório seria dos mais dolorosos.
Já estou no oitavo chope e no segundo trigo velho e quando Igor começa a ler a mão da menina, fico enjoado e resolvo ir ao banheiro. Depois de tirar água do joelho, fico olhando minha cara bêbada no espelho. O quadro da dor.
- Que bosta. Que bosta.
Escuto minha própria voz. Parius. To falando frases duplicadas também.
Passo uma água na cara e vamos à luta de novo. Quando saio do banheiro me dá um teto quando vejo a cena. Os dois agarrados no maior amasso. Taquiuspariu! E essa??? Vou jogar trigo velho nas minhas roupas e tocar fogo. Ou volto pro banheiro e me sufoco com papel higiênico. Ou quem sabe os dois junto? Mel Dels.
Com a vista turva me aproximo do balcão. É pagar e sumir. O Aurélio’s está lotado agora e demoram pra me atender. Sinto que a meu lado alguém senta e vejo que é a Nádia. A Nádia é do recursos humanos. Fiquei sabendo que se separou faz pouco tempo. Nunca trocamos palavra. Ela pede um chope e me cumprimenta. Tem o olhar cansado, mas não parece triste. Se dirige a mim.
- Me acompanha?
Nádia não chega a ser bonita, mas sempre me chamou a atenção o fato de parecer serena. Acho que neste momento, nossos olhares emanam distintos pedidos de socorro e quem sabe os dois possamos descansar um pouco, um na ilha do outro.
Reparo no bom gosto e discrição de sua forma de vestir, que contrastam muito bem com um divertido enfeite que leva no cabelo. Uma pequena rosa azul.
- Claro, Nádia.
Tomo fôlego, que a vida é bela e sinuosa.
- Ôooo Seu Chefia! Salta mais um chope! No capricho!
Fernando Corona 2014
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