domingo, 13 de julho de 2014

The Personal Enchanter



Exatamente às seis da tarde, Lucíola entrou na academia, deitou-se nas almofadas macias e de olhos cerrados pressentiu seu Encantador  aproximando-se na ponta dos pés, como era de costume, e ele então recitou versos, contou contos e cantou cantos. Quando o silêncio se fez novamente, plenamente saciada, Lucíola levantou-se e sem dizer palavra, pois já não havia a quem falar, ganhou novamente a rua, e como todas as mulheres recém encantadas, riu plateias, chorou mares e sentiu todos os pelos do corpo eriçados quase como fosse febre e o sexo, este danado, ia gritando no peito suas melhores frases.

Momentos depois, Lucíola encontrou seu homem e já no primeiro abraço lhe transferiu um bom tanto de encantamento, mas ele, por sua visão pequena de menino, pensou que era apenas seu próprio talento que novamente brilhava. Depois de tudo terminado, a vaidade deste homem, agora bem alimentada, lhe deu a paz necessária para adormecer e sonhar com festas confusas. A seu lado, Lucíola apanhou um bombom que estava sobre a mesinha e sorrindo, com olhos fixos no teto, vislumbrou antigas ruelas e frescas alamedas carregadas de flor.

No exato instante em que o chocolate tocou sua boca, o encantador, a alguns quarteirões dali, fechava a academia e tomava o rumo de casa. No caminho, pode ver pela calçada os restos de purpurina deixados por Lucíola e outras encantadas e sentiu-se feliz pelo trabalho tão bem feito. Estava exausto e vazio e esta dor que doía bem no coração, ah, esta dor...teria de ver isto hora destas. Talvez até procurar ajuda, quem sabe. Mas não agora. Agora... ainda havia muito... muito o que encantar.


Fernando Corona

05/06/14

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