quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A URGÊNCIA DE AGRADECER

Dia destes postei aqui uma das musiquinhas que andei cometendo ao longo destes anos (não paro de encher o saco dos colegas facebookianos) e um dos comentários veio de bem longe - do Vêneto, região que fica ao norte da Itália – e este comentário dizia apenas uma palavra: STRAORDINARIO.

Foi o que escreveu Vincenzo Titti Castrini, este sim, extraordinário acordeonista, com quem tive a oportunidade de dividir um pouco de música e existência durante uma noite quente de julho, na cidade de Peschiera, no ano de 2011.

O quarteto era composto também por Paolo Andriolo, baixista de Pádua e Otávio Garcia, baterista do Rio de Janeiro. Estávamos apresentando as músicas de um projeto muito simpático chamado “Villa Lobos in Jazz” e tocamos num bar ao ar livre, no meio de uma pracinha pitoresca, que tinha flor por todo lado. Já havíamos apreciado um fim de tarde suave, de cores pasteis, e acho que tínhamos todos a alma leve.

O comentário do Titti me fez lembrar também que, depois da tocata, antes da despedida, ficamos por ali bebendo um pouco, e ele sentado à mesa, pegou o instrumento e começou a cantarolar tradicionais cançonetas italianas.

Havia uns poucos amigos à volta, degustando sorridentes aquilo que era tão simples e bonito. Esta cena de pura celebração ficou marcada na minha memória e não sei por que me fez imaginar que, há muito tempo atrás, minha avó resolveu comprar um piano para minha mãe, que logo começou a estudar e assim meus primeiros anos de vida tiveram como trilha, Bach e tangos.

Depois de uma mudança, o piano foi parar no meu quarto, mas só fui me interessar por ele aos 15 anos , quando ao entrar na casa de um amigo, vi sua irmã (que se chama Magali e este é o mesmo nome de minha mãe) tocando Blue Moon.

Me aproximei e fiquei olhando aquilo. Parecia simples. Pedi a ela que me ensinasse, e foi aí que tudo começou.

Minha avó se chamava Maria Bonetti, era filha de colonos italianos que vieram da mesma região de Titti e Andriolo, o Vêneto.

Perdeu seu marido - que se chamava Gastão Villeroy - muito cedo, e carregou este luto até seu último dia. Talvez por isto tenha sido uma pessoa um tanto dura, e eu não tinha muita paciência com ela.

Mas lembrei-me dela esta semana e fiquei pensando que dá um pouco de pena que a gente leve 50 anos para entender certas coisas. Parece que nunca estamos preparados para entender. Tenho descoberto que as pessoas fazem o melhor que elas podem e isto tem modificado um pouco a forma de como vejo a vida.

Minha avó deu um piano para minha mãe, e por isto ter acontecido, pude aprender naturalmente a tocar o instrumento, e assim tive a possibilidade de viajar e assistir, embriagado de cerveja e emoção, a Titti cantarolando lindamente numa mesa de um bar de uma praça de uma cidadezinha italiana na qual meu tataravô pode até ter vivido.

Eu andava com um medo danado me assaltando, que era o de morrer me sentindo um babaca prepotente, mas parece que estou tendo a chance de ir me reconciliando aos poucos com a vida. A gente vai aprendendo que é urgente agradecer. Então, desta vez, agradeço a ti, vó. Um beijo.

Fernando Corona - rj -2014




2 comentários:

  1. O que conta é se dar conta ! E não importa quando, afinal de contas! Um dia li por aí que não há no mundo exagero mais belo que a gratidão ! Então que ele aconteça sempre !!
    Texto sensível, tocante, bonito.

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