Coisa que não consigo fazer é comer com música de fundo. Não como nada, nem ninguém, pois a música me atrapalha.
Não me deixa sentir gostos nem cheiros. Acho mesmo que não gosto de música de fundo em nenhuma situação. Se for ruim me irrita e se for boa coloco a atenção nela e então deixa de ser de fundo.
Tenho preferido o silêncio, ou ausência de música. Engraçado é entrar na casa ou no carro de um colega. Ele vai botar música pra tocar, certamente. Eu, às vezes, sou grosseiro a ponto de pedir;
- Oh véi, tira isso? Vai atrapalhar nossa conversa.
Outra coisinha que incomoda é a inveja que sinto dos músicos que ficam várias horas no instrumento e quando param, vão ouvir música, logo voltam a tocar e quando param de novo, ficam batucando na mesa. Nunca consegui ser assim. E agora tá pior. Quero cada vez mais o silêncio. Tenho curtido mais as pausas do que as notas. Espaço é a palavra da hora e espaço também é silêncio.
Será que, na realidade, não gosto de música? Talvez seja porque meu pai tenha me obrigado a seguir esta carreira. Me lembro de que quando estava estudando pro vestibular de Medicina ele entrava no quarto e me mandava pros bares tocar.
– E se não voltar pra casa com cheiro de cigarro, bebida e mulher, eu corto tua mesada.
Me ameaçava sempre.
Então agora fico por aí, tocando meu pianinho, pensando que legal mesmo seria ter um bloco de receitas e uma letra ruim.
Hoje em dia me satisfaço com o fato de ter um amigo de longa data, médico, que generosamente me deixa assistir à algumas operações. Retirada de apêndice é a minha favorita. Vi uma lipo dia destes, mas fiquei meio enjoado. Agora fujo de lipo, mas a retirada de uma pedra nos rins que assisti ontem tava show. Até arrisquei um pitaco no final .
– Óh, aquela sutura não ficou bem firme .
Meu amigo, sem levantar os olhos do paciente, grunhiu através da máscara.
- Menos, Jazzman, menos.
PS. Dois médicos que também são músicos fizeram uma dupla e batizaram de “Duo Deno”.
F C
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