quarta-feira, 6 de agosto de 2014

GAGUINHO DE TALENTO



Faz mais de 20 anos que fui tocar num destes festivais gaudérios numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul.

Depois de terminada a função descobrimos que não havia bares ou restaurantes abertos e só nos restou comprar algumas latas e voltar ao hotelzinho em que estávamos hospedados.

Nos reunimos 6 ou 7 músicos num dos quartos, bebendo, e a conversa estava animada quando pediram que parássemos com aquilo porque estávamos perturbando os demais hóspedes que queriam dormir.

Fomos nos retirando pra nossos quartos com exceção de uma cantora, que não vou dizer o nome mas posso dizer que era muito bonita, e um músico, que não direi nem nome nem instrumento mas posso contar que tinha como característica uma acentuada gagueira.

Ficaram só os dois no quarto se dedicando às ervas possivelmente. Eu já estava na minha cama, quase dormindo, quando tive a impressão de ouvir resfolego. O resfolego se transformou em ofegância e quando a ofegância virou gemido não havia mais dúvida do que estava acontecendo.

E pela qualidade do gemido dava pra ver que o gaguinho tinha talento. Dali a pouco, quando a menina começou a gritar, me sentei na cama. Não vê que eu gosto do assunto? E tive a certeza que os outros hóspedes do hotel estavam na mesma posição que eu. Todos com caras de idiota tentando ouvir os preciosos detalhes.

No meio daquela loucurada ela grita;
- Me bate, me bate, me chama de puta.

Aquilo retumbou no hotelzinho. Logo após um pequeno silêncio a resposta dele veio em volume baixo, mas não menos clara;

- Pu-uu-ta.

Aquilo soou meio vacilante, quase como uma pergunta. No dia seguinte foi aquele constrangimento no café da manhã.

Todos cumprimentando ou mexendo com o carinha , que em determinado momento meio vermelho que estava , virou pra mim e perguntou.- V-v-ve-vem cá. C-c-co-como é que eles sabem q-q-q-qui era eu?

Fernando Corona - 2013




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