segunda-feira, 18 de agosto de 2014

ANA & CIA - Criado a partir de um relato de Cléo de Paris


Cléo usou as melhores palavras para explicar a Ana o que tinha acontecido com o Tio Zé, e a menina, do alto dos seus 7 anos, respondeu que sim, que entendia, que queria ir ao velório como todas as outras pessoas, queria se despedir daquele tio tão raro, que tinha vivido em outros lados do mundo e pintava quadros coloridos e que havia dado a ela uma telinha com aquele gato vermelho que sua mãe havia pendurado bem no centro da parede e Ana sempre podia vê-lo de sua cama e ficava muito impressionada com o tamanho dos bigodes de Flim, que era como ela o havia apelidado.

No dia seguinte, quando Ana se aproximou do caixão levando nas mãos a Pantera cor de rosa e o Sapo de pelúcia, tia Carmen lhe dirigiu um sorriso e falou.
 

-Ana, vejo que você trouxe seus bichinhos.
-É sim, tia Carmen, eu trouxe eles pra ajudarem a rezar.
 

Momentos depois, enquanto homens concentrados depositavam o ataúde na gaveta e o silêncio chegou a seu ponto máximo, todos puderam ouvir claramente a voz de Ana.
 

- Tchau, Tio Zé! Até quando eu morrer!
 

Na volta para casa, Ana, a Pantera e o Sapo observavam o céu através do vidro do carro. Havia muitas nuvens, eram muito brancas e moviam-se com ligeireza e quando o sinal fechou, a menina teve a impressão de que uma delas tinha tomado a forma da cara do tio Zé. Já ia dizer alguma coisa, mas também lhe chamou a atenção que, da calçada, um menino olhava fixamente para ela com um sorriso de menino lindo e quando o carro pôs-se em movimento ele botou a língua para ela. Então Ana voltou-se para trás e de joelhos no banco pode ver pelo vidro traseiro o menino se afastando, se afastando e acenando. Era um sol de primavera que havia lá fora e este sol celebrava a vida esplendidamente. Dentro do carro, apenas breves e graves murmúrios. E uma Pantera que abraçava um sapo.

Fernando Corona - RJ - 2013



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