Tenho andado sempre aéreo, pensando nela. Ela não quer sair comigo, aquela linda. Aquela linda sempre tem uma boa desculpa na ponta da língua, e escapole sorrindo, delicada e tranquila, a minha rainha das tangentes. É um caso que não tem solução.
Mas eis que hoje volto do almoço, entro na repartição e vejo que ela não está em seu posto. Deve ter ido ao banheiro retocar a maquiagem. Quando passo por sua mesa reparo que deixou ali por cima seu celular.
Então algo me vem, algo me sopra e me detenho. Calmamente, de dentro do bolso retiro meu aparelho, coloco no modo vibracall e o deposito cuidadosamente sobre o dela. Os dois cara à cara. É sim. É isto mesmo que você tá pensando. Na posição do mais singelo romantismo, tá ligado?
Então tomo a direção de minha escrivaninha, sento-me e espero que ela volte. Isto não tarda a acontecer. Vejo que ela se acomoda em sua cadeira e leva alguns segundos até jogar sua atenção na cena dos celulares. Noto que fica levemente embaraçada, dá uma olhada geral na sala e quando faz menção de estender a mão, uso o convencional para ligar, e meu celular começa a vibrar em cima do dela, bem assim, meio que transandinho, até se esparramar sobre a mesa. Neste exato momento encerro a ligação e ele cessa seus tremeliques.
Vejo então que ela fica assombrada com a performance, e vejo também que levanta os olhos, resoluta, decidida a encontrar o autor da cretina proeza. Quando seus olhos batem nos meus, cai numa gargalhada que não tem fim, e noto que seu rosto ganha cor, e ela cobre os olhos com as mãos simulando vergonha, e quanto mais ri mais vermelha fica, e logo me faz sinal de que sou de morte e mereço umas palmadas.
Ela não pode ser mais linda. Eu a acompanho no riso e invento algumas caretas sugestivas, afinal, certamente marquei preciosos pontos.
Bueno, agora com licença que vou buscar meu aparelho na mesa dela. Acho que com esta, pelo menos um chopinho no fim da tarde eu mereço. Por genial. É ou não é?
Fernando Corona – 2014
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