domingo, 17 de agosto de 2014

O JOTA




Encontro o Jota na avenida. Tem uma tala na mão direita e na outra leva uma bolinha de borracha verde.
- Fala, Jota!
- Beleza, irmão?
- Tudo.

Jota e eu temos particularidades parecidas. Falamos pouco e nunca sorrimos. Somos pessoas sérias. Aponto pro braço e pergunto.

- E esta parada aí?
- Ah, sabe o que é? Tô pegando uma mina legal, lá da academia. Daí tenho levado ela pro escritório, nas tardes.
- E?
- Ela pede pra eu apertar a panturrilha dela.
- Sério?
- Humhum.
- Ela gosta?
- Adora.
- E tu aperta?
- Aperto.
- Com força?
- Muita, meu.
- E aí?
- Aí é tendinite, mano.
- Caraca. E esta bolinha verde, pra que?
- Vou encontrar ela hoje. Tô fortalecendo um pouco a esquerda. Minha esquerda não dá pressão.
- Já experimentou ajudar com o joelho?
- Já. Já botei os dois joelhos em cima da perna dela e todo peso.
- E ela?
- Diz que é pouco. Quer mais forte. Fica braba e grita. Chega a dar medo, véio. A advogada do 401 até já reclamou.
- Putz. É que você é magro, não tem muito peso.
- Pois é. Acabei de ir numa loja ver o preço dum colete de chumbo. Pode ser que ajude.
- Hum.
- É massa! 30 quilos.
- Talvez adiante. Já pensou em colocar alguém na garupa? Pra aumentar bem o peso?
- Hum. Não pensei não.
- Se precisar, tô na área.
- Não sei se ela vai gostar dessa parada, mano.
- Liga pra ela. Qualquer coisa me dá um toque.
- Já é.
- Vou nessa, Jota.
- Abraço, brother.

Fernando Corona - RJ - 2014




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